segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

MEMÓRIA




Alguns cheiros e sensações me remetem `a minha infância. Quando estou no banho e passo Neutrox no meu cabelo, lembro-me do clube que frequentava. Quase posso me transportar para o banheiro de azulejos brancos onde tomávamos banho depois da piscina. Quase me sinto no corpo da menina que eu era.

A brisa fresca do mar que entra pelas janelas do meu apartamento na Glória, sem nenhum impedimento de prédios, me remete para as casas de veraneio de Marataízes, no Espírito Santo. E revivo sensorialmente em segundos o descompromisso daqueles dias.

Algumas pessoas dizem, fulano escreveu tal livro falando de coisas que realmente aconteceram. Ou, esta história é baseada em fatos reais.

Outras se empenham em declarar que sua produção literária é pura ficção.

Ora, nenhuma criação se faz de geração espontânea. Escrevemos (estou falando sobre
literatura que procura qualidade) com o que vivemos, imaginamos, sonhamos, tememos, aprendemos, duvidamos. Somos afetados pela vida e o que sai da gente nos diz respeito sim, mas é ficção. Ou você já viu duas pessoas contando uma história vivida em comum do mesmo jeito? Impossível. Cada um faz o seu recorte. Minha irmã não tem a mesma imagem do pai que tivemos e por aí vai.

E o jornalismo, então? Como é que fica? Deveria ter compromisso com os fatos reais, e, normalmente, tem, até porque é o produto que põe a venda (o de qualidade, claro). Mas não se engane, por mais que tentem enquadrar o texto, uma construção jamais será igual a outra, graças a Deus.

A ciência mais dura é uma construção humana e, como tal, um discurso criado pelo homem, que tem tudo a ver com quem o cria. Durante muito tempo se acreditou que o sol girava em torno da Terra. Ciência? Sim, mas também pura ficção.É bom ter cuidado com o que se acredita e duvidar, `as vezes, faz bem.

Que venha 2010!

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